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Proteínas desenoveladas foram tema de simpósio
Aplicações e pesquisas sobre proteínas intrinsecamente desenoveladas foram tema de simpósio em junho
Cerca de metade das proteínas que temos em nosso corpo podem naturalmente não ter uma estrutura definida e ainda assim exercer importantes funções fisiológicas. O dado – que desmistifica a concepção corrente de que a função de uma proteína é dependente de sua estrutura – foi trazido por diversos palestrantes no Simpósio “Intrinsically Disordered Proteins in Health and Disease”, que aconteceu no dia 6 de junho de 2017, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Organizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Biologia Estrutural e Bioimagem (INBEB), o simpósio foi um evento satélite da International Conference on Biological Physics (ICBP2017) , que acontece de 5 a 9 de junho, no Rio de Janeiro.
As proteínas intrinsecamente desenoveladas (IDPs, sigla em inglês) podem adotar diferentes posicionamentos no espaço e estão envolvidas com uma série de funções normais do organismo, como na memória de longa duração e no sistema nervoso. Além disso, muitas patologias humanas, como a Doença de Parkinson e o câncer, envolvem interações com proteínas total ou parcialmente desenoveladas. No Simpósio Satélite, foram abordados diversos aspectos das IDPs, como a utilização destas proteínas no desenvolvimento de biomateriais; as potencialidades das estruturas desenoveladas como alvos terapêuticos; a importância destas proteínas na constituição da memória; a relação entre as IDPs e a origem e a evolução das células eucarióticas; a interação entre príons e lipídeos, açúcares e DNA ribossomal, entre outros temas.
Figura: O simpósio contou com palestrantes nacionais e internacionais. Em pé: Elio Cino, Yraima Cordeiro, Sarah Bondos, Aihua Xie, Guilherme Oliveira, Jerson Lima e Tuane Vieira. Sentados: Kausik Si e Keith Dunker (Foto: Gabriela Reznik/AscomINBEB).
Um dos coordenadores do simpósio, Keith Dunker, destacou a importância das regiões intrinsecamente desenoveladas para o desenvolvimento do organismo, como, por exemplo, na diferenciação e adesão celular. Dunker atentou para o fato de que as IDPs não vêm recebendo a devida importância e propôs, em tom de brincadeira: “Nós deveríamos reescrever os livros de bioquímica, incluindo o estudo das proteínas intrinsecamente desenoveladas entre os três tópicos principais, junto com catálise, transporte de membrana e ligação com pequenas moléculas”. O pesquisador destacou ainda que, no processo evolutivo, houve um aumento na percentagem de IDPs nos organismos eucariontes multicelulares quando comparados com bactérias e arqueobactérias.
Sarah Bondos, da Texas A&M Health Science Centre, mostrou pesquisas sobre biomateriais baseados em proteínas, como o fator de transcrição Ubx – que apresenta regiões intrinsecamente desenoveladas –, cuja fibra pode esticar em até 26 centímetros e se mostra como uma ferramenta potente. Bondos contou que descobriu ocasionalmente a potencialidade da biomolécula, após um dia cansativo de trabalho no laboratório. Ela deixou a amostra da proteína purificada fora do seu local de armazenamento e, ao chegar, na manhã seguinte, percebeu que havia um fio pendurado do tubo, formando uma fibra. Esse acontecimento inusitado abriu seu olhar para o trabalho com biomateriais.
Figura: Pesquisadores, estudantes de pós-graduação e de graduação compareceram ao evento (Foto: Gabriela Reznik/AscomINBEB).
Os príons – proteínas que assumem formas infecciosas – foram tema das palestras dos pesquisadores Jerson Lima, coordenador do INBEB, da bioquímica Tuane Vieira, do IFRJ, e da pesquisadora Yraima Cordeiro, da UFRJ, uma vez que algumas dessas moléculas possuem regiões intrinsecamente desenoveladas. Em sua apresentação, Jerson Lima, um dos coordenadores do simpósio, comparou a interação de proteínas e ácidos nucleicos em doenças neurodegenerativas com o romance de ficção Dr. Jekyll e Mr. Hyde. A interação pode ser benigna e funcional, como o personagem do médico, ou se tornar patogênica, como acontece com o monstruoso Mr. Hyde.
Confira a programação do simpósio e o ábum de fotos no Facebook do INBEB.
Por Gabriela Reznik/AscomINBEB – Publicado em 07/06/2017
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